O Quinze é um romance regionalista publicado em 1930 pela escritora cearense Rachel de Queiroz, que na época tinha apenas 19 anos. O tema central da obra é a seca de 1915, que assolou o Ceará.
Na época, muitas pessoas duvidaram que o livro tivesse sido escrito por uma mulher, ainda por cima uma garota de 19 anos. Isso porque Rachel tratou do tema com uma propriedade e uma sensibilidade de quem viveu aquele momento.
Rachel de Queiroz nasceu em 1910, e de fato viveu a seca de 1915, mas era muito pequena para se lembrar. No entanto, ela cresceu ouvindo relatos de sua família sobre aquele período difícil, isso ajudou a construir a sua obra.
A grande seca de 1915 e Os Campos de Concentração
A seca de 1915 foi uma das grandes estiagens que assolou o Nordeste brasileiro. O estado do Ceará foi profundamente afetado. A seca durou três anos e provocou fome, doenças e a morte de milhares de pessoas.
O sertão foi gravemente atingido, pois sem chuva não havia plantio nem colheita. Muitas famílias perderam seu sustento e não conseguiram mais manter seus rebanhos. Para algumas delas, a única saída foi sair do sertão e migrar para a capital, Fortaleza.
A quantidade de retirantes foi tão grande nesse período que o governo criou Campos de Concentração com o objetivo de conter o fluxo migratório e tentar impedir que eles chegassem à cidade. Nesses locais, os retirantes recebiam abrigo, comida e trabalho, mas não podiam sair, apenas para trabalhar.
Com o tempo esses campos ficaram superlotados, além da sua capacidade. Isso fez com que as pessoas vivessem em condições desumanas, de insalubridade, doenças e muitas mortes.
Apesar do nome "Campos de Concentração", eles não são a mesma coisa dos que existiram na Alemanha na época do Nazismo. O objetivo era conter e controlar a população migrante, não de exterminar.
O Ceará também viveu momentos semelhantes a esse nas secas de 1877 e 1932.
História de O Quinze
Dentro desse contexto de seca, O Quinze acompanha a vida de duas famílias e mostra como cada uma foi afetada pela tragédia.
De um lado, temos Conceição, uma jovem professora de 22 anos que mora em Fortaleza, mas está de férias no sertão, em Quixadá, com sua avó, Dona Inácia, que ela chama de mãe Nácia. Do outro lado, Chico Bento, um vaqueiro que perde o emprego quando sua patroa manda soltar todo o gado, pois não pode mais mantê-lo.
Apesar de serem próximos, Conceição e Chico Bento vivem realidades diferentes. Conceição consegue convencer sua avó a voltar com ela para Fortaleza. Apesar das dificuldades do momento, elas conseguem chegar à capital e viver com um certo conforto.
Já Chico Bento, sai de Quixadá a pé, com sua esposa, cunhada e cinco filhos pequenos. Ele deseja ir a Fortaleza e de lá ir para a Amazônia trabalhar com a extração de borracha. Porém, o caminho até a capital é marcado por muito sofrimento, falta de água, de comida, de abrigo, de higiene e de condições humanas, além de perdas na família.
Outro personagem importante na história é Vicente, o primo de Conceição, por quem ela tem uma paixão correspondida. No entanto, os dois são muito diferentes. Ele é focado em cuidar de sua fazenda, já Conceição gosta de ler, de estudar e tem uma visão mais ampla do mundo. É uma espécie de "feminista" que não se encaixa nos padrões que eram exigidos das mulheres na época.
Ao chegar em Fortaleza, Chico Bento e sua família são levados a um Campo de Concentração. Lá recebem o apoio de Conceição que vai lá todos os dias levar comida e ajuda aos retirantes.
Temas abordados em O Quinze
Além da seca e do sofrimento que ela causou nas pessoas, a obra nos faz pensar em muitos assuntos, como o papel da mulher na sociedade. Esperava-se que ela vivesse apenas para cuidar da casa, do marido e dos filhos e não tinha direito de ter outras ambições na vida.
A obra também aborda a desigualdade social. Em tempos difíceis, quem tem melhores condições financeiras consegue lidar com isso de uma maneira melhor. Já quem não tem, acaba vivendo situações desumanas de miséria.
No livro também vemos a luta pela sobrevivência e a resistência do povo nordestino. Apesar de todo o sofrimento, Chico Bento e sua família não deixam de lutar e de ter esperanças de ter uma vida melhor.
Impressões de leitura
Apesar de tratar de um tema tão duro que foi a seca de 1915, o livro tem uma leitura muito simples e fluida. Há algumas palavras que podem ser desconhecidas para nós, porém essa edição traz um glossário ao final com o significado dessas palavras. Ela traz também alguns textos de apoio que enriquecerem a experiência de leitura e o entendimento do romance.
O Quinze é um livro pequeno em tamanho, mas muito rico em conteúdo. Rachel de Queiroz descreve tudo de uma forma muito impactante e emocionante. De uma forma que a gente sente e se comove com angústia dos personagens e reflete sobre todo esse contexto histórico e social.
Sem dúvida, O Quinze é uma obra de grande qualidade. Mesmo retratando uma outra época, é uma leitura necessária nos dias de hoje. Mostra um momento que marcou a história do Nordeste brasileiro e do país. É uma obra que ajuda a conhecer o passado e nos faz refletir sobre o presente.
Recomendo a leitura para todos. Você já leu O Quinze ou pretende ler? Me conta nos comentários! Até a próxima.
Autora: Rachel de Queiroz
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